Conecte o interesse dos estudantes com a aprendizagem por pares
Que tal usar uma abordagem em sala de aula tão antiga quanto as pinturas rupestres ou muito utilizada na Grécia antiga? Você pode pensar que ela não faria sentido para os dias de hoje, certo? Pois, saiba que apesar de tantos anos a aprendizagem por pares ou tutoria por pares continua sendo um dos meios mais eficientes de ensinar e aprender sobre alguma coisa. Afinal, quem nunca observou uma boa prática de um amigo ou perguntou como fazer/usar algo para um colega?
Ao analisar a história, percebemos que o processo de aprendizagem por pares vem sendo utilizado de maneira informal ao longo da evolução humana. Foi somente em 1795 que a abordagem foi organizada formalmente como uma teoria, pelo escocês Andrew Bell. Nos últimos 30 anos, a aprendizagem por pares tornou-se cada vez mais popular devido ao crescente interesse em métodos de ensino e aprendizagem mais significativos.
APRENDIZAGEM POR PARES É PEER INSTRUCTION?
Com o desenvolvimento das tecnologias e o crescente volume de informações gerado pelas redes digitais, tornou-se muito comum encontrar conceitos similares e/ou distorções causadas por traduções. Portanto, é comum confundir aprendizagem por pares com o peer instruction ou instrução em pares.A instrução em pares (peer instruction) é um conceito concebido recentemente (década de 1990) pelo professor Eric Mazur, da Universidade de Harvard, nos EUA. As aulas são formadas por apresentações curtas ou conceitos-chave seguidas por teste de conceito estruturados. Estes testes são constituídas por breves questões conceituais de múltipla escolha sobre o assunto trabalhado. Cada teste conceitual tem em média 15 minutos de duração. Destes, são usados de 7 à 10 minutos para apresentação de conceitos e de 5 à 8 minutos para responder ao teste. Dessa forma 1 hora de aula consegue abranger até 5 pontos essenciais de um conteúdo.
Em outras palavras, essa abordagem incorpora perguntas formativas durante as aulas para avaliar e acompanhar o desempenho dos estudantes. Resumidamente, os estudantes participam de uma votação, com perguntas estruturadas, por meio de aplicativos ou placas. Se a maior parte (mais de 75%) responde corretamente, uma breve explicação é feita e outra questão ou tema é abordado. Se a taxa de respostas corretas fica entre 40-75% é solicitado aos estudantes que encontrem alguém que tenha votado diferente dele mesmo e tente instrui-los convencê-los sobre a sua resposta. Em seguida outra votação é realizada para avaliar o desempenho. E por fim, caso a porcentagem de acertos seja menor que 40%, uma explicação detalhada do problema e da solução são feitas para os estudantes.
CONECTE A ATENÇÃO DOS ESTUDANTES COM A APRENDIZAGEM POR PARES
A aprendizagem por pares, segundo Topping (2005)¹ pode ser definida como a aquisição de conhecimento e habilidade através da ajuda e apoio ativo entre os possuem status igual ou os companheiros correspondentes. Ou seja, grosso modo, a aprendizagem ou tutoria por pares é um termo usado que congrega uma grande variedade de acordos de tutoria, com foco na aprendizagem. A maioria das pesquisas se referem a estudantes que trabalham em pares para ajudar uns aos outros a aprender conceitos ou a praticar uma atividade acadêmica. A aprendizagem por pares funciona melhor quando estudantes de diferentes níveis de habilidade trabalham juntos (KUNSCH, JITENDRA, SOOD, 2007)².
BENEFÍCIOS
Existem diferentes momentos no qual a aprendizagem por pares pode ser incorporada no processo educacional. Há um velho ditado que diz: "Ensinar é aprender duas vezes". Nesse sentido, sabe-se que explicar um conceito para outro colega ajuda a ampliar o aprendizado próprio. Esta prática, portanto, permite aos estudantes aprofundar o entendimento sobre o assunto estudado.A aprendizagem por pares torna-se benéfica também a medida que promove competências transversais, tais como a comunicação, colaboração, criatividade e pensamento crítico, por exemplo. Dessa maneira, os estudantes aprendem uns com os outros em diferentes momentos e espaços.
Por exemplo, um estudante pode se destacar em matemática, enquanto outro se destaca em história. Os dois estudantes podem trabalhar juntos, compartilhando informações e promovendo a interdisciplinaridade, para mutuamente entender os conceitos mais difíceis e aprofundar seu próprio conhecimento sobre as áreas de conhecimento.
Em resumo, os principais benefícios da aprendizagem por pares inclui, mas não se limitam a:
- Aprendizagem personalizada.
- Promoção da aprendizagem ativa pela interação direta dos estudantes.
- Estímulo e reforço da aprendizagem ao ensinar os outros.
- Criação de ambiente de aprendizagem (todos mais confortáveis e abertos ao interagir com um par).
- Maior compreensão pelo compartilhamento de um discurso semelhante.
- Promoção da colaboração.
- Mais tempo para professores orientar e elaborar desafios/projetos/problemas.
COMO FUNCIONA?
A aprendizagem por pares pode ser incentivada em momentos específicos ou pode ser uma diretriz curricular na instituição. Um exemplo desse ultimo ponto citado pode ser conferida na escola da ponte, em Portugal. Onde a estrutura não possui turmas, nem séries. Ela está baseada em ciclos, cujos estudantes trabalham os currículos por eles escolhidos a cada 15 dias, com a ajuda de todos os colegas e orientação de todos os professores de todas as áreas de conhecimento.
No entanto, para simplificar e resumir a maneira como você pode incorporar esses métodos e momentos na promoção de uma aprendizagem por pares, compartilhamos a seguir 13 dimensões, baseadas em Topping (2005)¹, assim dispostas:
- Conteúdo do currículo - Conhecimento, habilidades, competências ou a interdisciplinaridade a ser desenvolvida. O escopo da aprendizagem por pares é muito ampla e os projetos são relatados na literatura em praticamente todos as áreas de conhecimento. O envolvimento dos diferentes professores geram melhores resultados.
- Tutoria - Presencial ou a distância, consiste em projetos que operam com um tutor trabalhando com um grupo de pares. O tamanho do grupo é variável e às vezes, dois ou mais tutores trabalham juntos em um mesmo grupo.
- Intra e inter-instituições - A maior parte da aprendizagem por pares ocorre na mesma instituição. Mas ela também pode ocorrer entre diferentes instituições. Como por exemplo, quando jovens do ensino médio são tutores na escola de ensino fundamental, ou quando estudantes universitários ajudam regularmente escolas.
- Nível educacional - Tutores e tutoreados podem ser de grupos homogêneos ou heterogêneos. Ou seja, eles podem ter a mesma idade e nível educacional ou podem ser diversificados (níveis e fases escolares diferentes).
- Competências - Focado no desenvolvimento de uma competência específica. O foco pode ser voltado apenas à uma parte do conteúdo (currículo). Pode-se utilizar um tutor como facilitador desse conteúdo ou estimular que todos trabalhem juntos para uma compreensão compartilhada e mais aprofundada do tema. Ao optar pelo tutor, é preciso estar atento às falhas na "Meta-ignorância", onde ele não identifica que os estudantes não conhecem os fatos corretos.
- Rotação de papéis - Os papéis não precisam ser permanentes, especialmente em projetos que abordam as mesmas competências. A mudança estruturada de papéis em momentos estratégicos pode ser vantajoso para envolver os estudantes com uma novidade e dar um impulso para a auto-estima, na medida em que todos os participantes conseguem ensinar algo aos outros.
- Tempo - A aprendizagem por pares pode ser agendada de acordo com o tempo de aula normal, fora dele ou em uma combinação de ambos. Depende da extensão e do propósito educacional que abordagem é incorporada. Ela pode ser substituta ou complementar ao ensino regular.
- Ambientes de aprendizagem - Não se limitam às salas de aula e são variados. Podem ser presenciais ou virtuais, formais ou informais.
- Combinação dos pares - Todos os participantes (tutores e tutoreados) devem encontrar algum desafio em suas atividades conjuntas. A combinação deve ser acompanhada e orientada pelo docente, bem como ser estimulante e motivadora para os estudantes.
- Inclusão - Os projetos podem ser voltados para todos ou para um subgrupo específico. É possível incluir estudantes com distúrbios de aprendizagem, estrangeiros, diferentes classes sociais, etc. É preciso analisar o contexto e criar uma cultura colaborativa para que todos aprendam sem discriminações e se sintam incluídos.
- Objetivos - Os objetivos que guiarão o projeto podem ser direcionadas para ganhos intelectuais (cognitivos), realização acadêmica formal, ganhos afetivos e atitudinais, ganhos sociais e emocionais, autoimagem ou autoconhecimento. Os objetivos institucionais podem incluir a redução do abandono escolar, a inclusão, melhorias de desempenho em avaliações, etc.
- Voluntário ou obrigatório - Alguns projetos requerem participação de todos, enquanto em outros os estudantes podem se auto-selecionar espontaneamente. Isso pode impactar diretamente na qualidade do desenvolvimento do projeto.
- Reforço e recompensa - Alguns projetos envolvem reforço extrínseco para os tutores. Enquanto outros dependem da motivação intrínseca. Além do social, a recompensa extrínseca pode assumir a forma de certificação, crédito do curso ou reforço tangível, como premiações.
PROFESSOR-MEDIADOR-FACILITADOR
A aprendizagem por pares pressupõem um acompanhamento e orientação constantes. Ela pode ser dividida em pequenos grupos de estudantes, onde todos são responsáveis por ensinar e aprender. Ou também, pode-se agrupar os estudantes em duplas, onde um ensina ao outro. Nessa abordagem todos compartilham informações e experiências e aprendem conceitos importantes como autonomia, pensamento crítico, criatividade, comunicação e colaboração.
Os desafios educacionais do século XXI passam, entre outros fatores, por integrar a aprendizagem à realidade do entorno do estudante. Em outras palavras, trata-se de criar momentos de aprendizagem significativos e contextualizados. Nesse sentido, a aprendizagem por pares, com os papéis de tutoria integram os estudantes e promovem o desenvolvimento de conhecimentos, habilidades, atitudes e valores.
Você é a favor ou contra dessa abordagem? Conhece alguma iniciativa de sucesso na sua região? Tem vontade de começar um projeto nesses moldes? Compartilhe conosco sua opinião! Deixe o seu comentário abaixo!
Tenha em mente:
“Se você continuar a fazer o que sempre fez, vai continuar a conseguir o que sempre conseguiu.” – Anthony Robbins
¹ Topping, K(2005). Trends in Peer Learning. Educational Psychology, Vol. 25, No. 6, pp. 631–645.
² Kunsch, C., Jitendra, A., & Sood, S. (2007). The effects of peer-mediated instruction in mathematics for students with learning problems: A research synthesis. Learning Disabilities Research & Practice.
³ Topping, K (2008). Peer-assisted learning: A practical guide for teachers. Newton, Mass.: Brookline Books.

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